Delegado proíbe festas com aparelhagens e som automotivo

O Delegado de Polícia Civil de Igarapé-Miri, Dr. Alexandre Rebelo, determinou no último dia 03 de Julho de 2015, através de portaria, a proibição de Festas com aparelhagens e som automotivo durante a Festividade de Sant'ana no município de Igarapé-Miri. A determinação, em resumo, se justifica pela manutenção da ordem pública, haja vista o período festivo e de grande agitação causado pelo consumo de bebidas alcoólicas no município que sofre cotidianamente com atos de violência urbana, na maioria das vezes generalizado. Todavia, após a divulgação da determinação pela autoridade policial, as redes sociais  vem protagonizando um verdadeiro palco de polêmica e embate entre "prós e contras", e vem mobilizando internautas e autoridades sobre a legalidade ou não da medida.

Independente da legalidade da decisão, bem como seu teor de justificativa, é necessário portanto discutir dois pontos além senso comum:

1 - O aumento dos índices de violência durante a permanência/realização de festas com aparelhagens e/ou sons automotivos;

2 - A criminalização das festas com aparelhagem e/ou sons automotivos e a omissão do Estado na solução do verdadeiro problema da violência: o tráfico organizado;

As autoridades policiais atestam com índices que a presença de grandes aparelhagens no município provocam o crescimento de furtos, tráfico de entorpecentes, assaltos e homicídios gerados por grupos divergentes. Para o Delegado de Polícia, em tese, a criminalidade aumenta pela busca do dinheiro fácil com a prática de atos de violência, que por sua vez financiam drogas, bebidas e ostentações típicas do 'baile'. Além de tudo, esses espaços são de passeio comum entre grupos rivais, e ocasionalmente deflagam confusões.

Por mais verdade que sejam essas afirmativas, e por mais numéricos que sejam os índices policiais, é necessário analisar o recente movimento que tende em CRIMINALIZAR AS FESTAS COM APARELHAGENS E SONS AUTOMOTIVOS, que de certa forma até pode resolver boa parte dos índices gerados pela violência urbana, MENOS O PROBLEMA, e a grande vítima é a cultura popular!

O que questiono é por que tanta repressão a uma expressão popular específica. Por que mais uma vez o estado chega à periferia reprimindo uma manifestação cultural que atrai grande parte da comunidade? Aliás, não seria uma omissão do estado, que proibindo e oprimindo assina sua carta de culpa na promoção de politicas públicas eficazes na área da segurança pública? Será que essas festas só atraem pessoas à margem da sociedade, ou tem afastados as boas pessoas justamente pela omissão em manter espaços como esses sob controle?

Especialistas, sociólogos e demais intelectuais brasileiros tem afirmando que esses espaços caracterizam-se em fenômenos peculiar para entender a juventude brasileira, o capitalismo recente, e esse novo Brasil que ressurge a partir de manifestações de cunho popular e periférico. Afinal, o ritual está sempre dizendo alguma coisa além do próprio ritual. Todavia, ao invés de buscar compreender e solucionar os problemas e otimizar as virtudes, o que acontece é que essas manifestações são proibidas, reprimidas e criminalizadas.

A priori, nada se difere de uma festa como qualquer outra: som alto, bebida alcoólica, aglomeração de pessoas. Além do público que frequenta, as festas com aparelhagens são acusadas pelo seu conteúdo fútil e sua batida repetitiva, todavia, é possível encontrar outros ritmos musicais com essas mesmas características, nacionais e internacionais, e que não sofrem tanta crítica.

Criminalizar manifestações populares historicamente é uma tradição das classes hegemônicas brasileiras desde os tempos coloniais, que associadas a omissão do estado em garantir a paz e a tranquilidade durante as manifestações populares com grande aglomeração, se alia a mídia, ao sistema educacional e os aparelhos de estado, estereotipando-as como práticas inferiores, negativas  ou ilegais. Na contramão, as manifestações culturais da elite são recheadas de explicações que a legitimam como arte e vanguarda. Lembrem-se, você goste ou não, aparelhagem, e som automotivo também é cultura, e se opor a isso caracteriza ETNOCENTRISMO. Goste-se ou não, as festas de aparelhagens bem como a cultura em ouvir o brega, tecnomelody, melody, eletromelody e outras generalizações, é atualmente a uma das principais vozes da periferia. A proibição é uma medida racista e social feita para enfraquecer essa manifestação cultural. Por que não caminhar em outra direção?